segunda-feira, julho 20, 2009

Obsessão

Tão desesperado e tão obsessivo...
Comecei a ler, e quase pensei em parar, mas era tão angustiante que continuei pra saber até onde iria, e vai ficando cada vez mais denso. Alguém tem esse livro?


Os Três Mal-Amados
João Cabral de Melo Neto

Joaquim:

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.
O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.
O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.
O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.
O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.
O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.
O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

As falas do personagem Joaquim foram extraídas da poesia "Os Três Mal-Amados", constante do livro "João Cabral de Melo Neto - Obras Completas", Editora Nova Aguilar S.A. - Rio de Janeiro, 1994, pág.59.

domingo, julho 19, 2009

"A JÚLIA"


A Júlia
Auta de Souza

No teu olhar, cheio da luz chorosa
Que envolve o Espaço quando a tarde expira,
Bóia uma doce mágoa lacrimosa,
Uma saudade indefinida gira.
E quando afirmes que não tem começo
A dor sem fim que no teu seio existe
Queres assim, eu muito bem conheço,
Fazer-me crer que já nasceste triste.
E falas a sorrir: “Essa dolente
Tristeza amarga que me empana o olhar
É a vaga chorando eternamente
Por não poder se separar do mar...”
E se te fito a umedecida boca
E vejo rubro o lábio que sorri,
Logo pergunto, num cismar de louca,
À mente e ao coração, se és tu quem ri.
Pois é tão mansa a chama destes olhos
Envoltos na carícia do sorriso,
Que eu penso que teus cílios são abrolhos,
Abrolhos rodeando um paraíso...



Esse poema foi escrito por Auta de Souza, considerada uma das maiores poetisas do Brasil, viveu no século XIX, nasceu no RN e teve uma vida marcada por perdas, quase sempre relacionadas a doença que castigou este século, a tuberculose. Porém escreveu lindos poemas.

Para saber mais: Auta de Souza

sexta-feira, julho 17, 2009

Nova loja virtual da Casa Al Mare Patchworck!




Sabe aquelas mantas de patchwork macias e confartáveis, que só de pegar agente já se sente na casa da mami?

A Casa Al Mare Patchwork, produz essas delícias e muito mais. Agora além do blog e do Flickr, tem uma nova loja virtual onde se pode fazer as compras sem sair da frente do computador. E vamos combinar né? Nada como o conforto de escolher e comprar pela internet! Se você ainda prefere ser atendida com exclusividade, mande um e-mail que a resposta é imediata e com toda atenção que necessita.

Casa Al Mare Patchwork - www.casaalmarepatchwork.com

quinta-feira, julho 16, 2009

OPEN, REI da RUA, TOP 16 - 22 de AGOSTO

Notícia fresquinha:

Enfim a data tão esperada pelos amantes da Arrancada, saiu! É dia 22 de agosto o grande dia - Quarta Prova do Campeonato da Associação Desafio.

Dia de ver as arquibancadas cheias, e novidades na reta do Velopark. Agora faltando apenas 3 provas para o final do Campeonato da AD e do TOP16, a disputa começa a ficar realmente intensa.

Com os quatro primeiros do Campeonato (Rafael Pires, Rafael Andreis, Leandro Fraga e Sergio Fontes) com diferenças pequenas, veremos disputas incríveis na pista.

Para saber mais sobre esta noticia:

Site Oficial Associação Desafio

domingo, julho 12, 2009

Lá em Irará

Quando eu nasci, o homem já havia estado lá. Caminhado, pulado e fincado a bandeira.
Se muitas crianças já sonhavam em ser astronautas, depois daquele momento praticamente todas que souberam do feito já estavam com a resposta na ponta da língua: O que serás quando crescer? ASTRONAUTA!

Quando pequena eu tinha convicção de que perto dos meus 30 anos já teria visitado a Lua, saído pelo espaço, visto as estrelas...
Já grandinha eu ainda acreditava nisso. Fiz um trabalho para escola, era um anuncio de uma agência de turismo que vendia pacotes para viagem a Lua. Uns 8 anos depois eu vi na televisão, um ricaço pagar para visitar as estrelas.

Lá em Irará, Ioiô Martins garantiu. Se ele falou, está falado, mas eu ainda acredito que é possível.